Em uma consulta de rotina, você fica sabendo que terá que passar por uma pequena cirurgia. Você faz a operação e o médico afirma que o procedimento foi um sucesso. Mas isso é apenas o primeiro passo: afinal, ainda é preciso lidar com a cicatrização, que muitas vezes vai exigir cuidados especiais com a alimentação e alguns dias longe do trabalho. Acompanhar todo esse processo para o restabelecimento do bem-estar físico, mental e social é o objetivo da medicina integrativa.
Partindo do princípio de que acupuntura, meditação e ioga ajudam a minimizar a dor, a ansiedade e até os efeitos colaterais dos tratamentos convencionais, a medicina integrativa tem ganhado cada vez mais espaço em hospitais e centros de estudos.
Para os defensores da prática, a cura não é apenas eliminar a doença, mas sim restabelecer o paciente integralmente – e isso inclui os aspectos emocionais e sociais também.
“A medicina integrativa propõe um resgate das práticas mais antigas sem negar os avanços da medicina convencional”, diz o médico Paulo de Tarso Lima, coordenador do Grupo de Medicina Integrativa do Hospital Israelita Albert Einstein e autor do livro “Medicina Integrativa – a Cura pelo Equilíbrio”.
Isso não quer dizer que um tratamento seja trocado pelo outro, mas, sim, que a combinação deles pode trazer benefícios reais para o paciente. “A medicina integrativa não é a defesa de uma terapia complementar, mas sim a integração de vários esforços pensando no bem-estar do paciente”, explica.
Na definição do Consortium of Academic Heath Centers for Integrative Medicine, “a medicina integrativa é a prática que reafirma a importância da relação entre médico e paciente, com foco na pessoa como um todo, embasada em evidências, e que usa de todas as abordagens terapêuticas apropriadas para alcançar saúde e cura”.
Pelo mundo afora
Essa nova abordagem, na verdade, não é tão nova assim. A medicina integrativa surgiu em meados de 1970 dentro das universidades norte-americanas, num movimento que buscava tirar a doença do foco principal de atenção e colocar o paciente como protagonista.
O primeiro centro de medicina integrativa foi criado em 1991 nos Estados Unidos pelo médico Brian Bennan. Atualmente, institutos e universidades europeias, americanas, canadenses, indianas, chinesas e africanas possuem cursos e centros de pesquisas sobre medicina integrativa.
O Brasil não fica atrás. A oferta de tratamentos complementares já acontece no SUS (Sistema Único de Saúde) desde 2006, quando o Ministério da Saúde criou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PIC). Desde então, passaram a ser oferecidos acupuntura, homeopatia, plantas medicinais e termalismo (diferentes maneiras de utilização da água mineral e sua aplicação em tratamentos de saúde) no sistema público de saúde em mais de 1.200 municípios.
“Pacientes em tratamento por hepatite, obesos mórbidos e ostomizados (que passaram por cirurgia para construir um novo caminho para a saída das fezes ou da urina para o exterior) podem ser beneficiados por esse tipo de tratamento. Eles são encaminhados pelos seus próprios médicos, que avaliam se estão em condições de receber o tratamento clínico e as terapias alternativas ao mesmo tempo”, diz Edilma Gonçalves, presidente da Associação do Voluntariado do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, que oferece terapias alternativas como reiki e cromoterapia aos seus pacientes. “O nosso objetivo é que essas terapias alternativas sejam estendidas para todas as especialidades atendidas no Mandaqui, inclusive para os funcionários”, afirma.
E a implantação teve sucesso: segundo dados do Ministério da Saúde, o SUS faz em média 385 mil procedimentos de acupuntura e mais de 300 mil de homeopatia por ano. “A medicina integrativa já é uma realidade efetiva em todo o país, e conta com lei federal, portaria regulamentadora do Ministério da Saúde – ainda que sob denominação diferenciada – e diversas leis estaduais e municipais”, aponta o doutor em ioga Cláudio Duarte, que é membro da Unesco e consultor especializado em qualidade de vida em vários países.
Apesar de ainda haver relutância por parte de muitos médicos convencionais, a prática integrativa tem respaldo científico. O número de estudos sobre o tema cresceu 33% em cinco anos, de acordo com o banco de dados de publicações médicas Pubmed. Só em 2011 foram 514 artigos divulgados. Os cursos sobre o tema também têm aumentado: só nos Estados Unidos são mais de 3.800 cursos na área.
Aqui no Brasil, a Liga de Medicina Integrativa da Unicamp oferece desde 2010 a disciplina de medicina integrativa para alunos de graduação da Faculdade de Ciências Médicas. E o hospital Albert Einstein de São Paulo oferece o curso de pós-graduação latu senso em medicina integrativa, atendendo cerca de 40 alunos por ano e realizando várias pesquisas na área.
Paciente em primeiro lugar
A característica principal da medicina integrativa é colocar o paciente em primeiro lugar. Isso significa pensar nele integramente, considerando seus aspectos emocionais e sociais também, assim como considerar as características únicas de cada um. “Para algumas pessoas, a meditação pode trazer alívio dos sintomas, mas para outras pode não ter efeito. Por isso antes de tudo é preciso ouvir o paciente”, afirma Lima.
Os pacientes que podem usufruir muito dos benefícios da medicina integrativa são os crônicos. Isso porque têm de conviver com uma doença por um período de tempo muito longo e veem sua qualidade de vida se deteriorar por conta da enfermidade. Nesses casos, as terapias complementares e alternativas podem oferecer recursos que forneçam bem-estar para esses indivíduos.
“Entre os principais motivos que estimulam o paciente e/ou seus familiares a procurarem a medicina integrativa está o fato de a mesma ser altamente humanizada, ou seja, ela preocupa-se com o ser humano, em ouvi-lo, em atendê-lo profundamente, em dar-lhe além do tratamento necessário, também atenção”, explica Duarte.